Entrevista da semana: Roberto Rodrigues «Voltar
O júri da segunda edição do Prêmio Sescoop Excelência de Gestão escolheu ontem as cooperativas vencedoras do ciclo 2015. A premiação ocorre a cada dois anos e, segundo, o coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues, que é integrante da banca julgadora, é emblemática, considerando o atual cenário econômico do país. 

“Quando um prêmio desses surge num momento de crise, no qual as cooperativas são mais resilientes, resistindo mais às dificuldades econômicas generalizadas, mostramos à sociedade a relevância do movimento cooperativista comparado com outras áreas da economia do Brasil”, comenta o embaixador especial da FAO para o cooperativismo mundial. Confira a entrevista!


O senhor acompanha o prêmio desde sua primeira edição. As melhorias implementadas foram percebidas?

Roberto Rodrigues – Sem dúvida. Primeiro, porque a qualidade do trabalho realizado pelo Sistema OCB, pelos auditores, pelo Comitê Gestor, só vai melhorando, pois a cada edição aprende-se e sofistica-se o processo, o que resulta em ganho de qualidade. Certamente o trabalho realizado é notável. Parabéns a todos os envolvidos.

Gostaria de destacar, para além disso, a atuação das cooperativas na busca de seu aperfeiçoamento nas áreas de gestão e governança. Isso nos dá muito orgulho, porque ao observarmos os resultados, temos a certeza de que estamos avançando, crescendo e evoluindo enquanto empresas cooperativistas que, não obstante serem guiadas por valores e princípios, são empresas. Então, ao verificamos isso nos processos de gestão e governança, percebemos claramente que o movimento cooperativista está avançando.


De que forma este prêmio pode ajudar outras cooperativas a melhorarem seu processo de gestão?

Roberto Rodrigues – Primeiro é bom destacar que cresce o número de cooperativas interessadas em participar do prêmio. Por que? Porque elas acreditam no processo de gestão e estão empenhadas nisso. Elas querem mostrar o que fazem. Aquelas que ainda não despertaram para esta questão, seguramente serão estimuladas a fazê-lo. A premiação, o reconhecimento e a fama que cercam as vencedoras, sem dúvida nenhuma, são estímulos para que as demais sintam-se motivadas a melhorarem seus processos de gestão e governança e, assim, participem também.


Qual a importância do Prêmio Sescoop Excelência de Gestão para a economia brasileira?

Roberto Rodrigues - Há um trabalho realizado recentemente pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) que mostra a resiliência das cooperativas de maneira geral em tempos de crise. O trabalho é muito mais focado na realidade das cooperativas financeiras. Então ficou claro que durante as crises financeiras que varreram o mundo nos últimos 20 anos, as cooperativas de crédito e bancos cooperativos resistiram bravamente; mais até do que os bancos comerciais e, inclusive, os bancos públicos. Isso se deve ao fato de o cooperado ter aquela tríplice função: investidor, cliente e dono da cooperativa. Quando um prêmio desses surge num momento de crise, no qual as cooperativas são mais resilientes, resistindo mais às dificuldades econômicas generalizadas, mostramos à sociedade a relevância do movimento cooperativista comparado com outras áreas da economia do Brasil

Quais são os desafios que o cooperativismo brasileiro tem diante de si, considerando o movimento de outros países?

Roberto Rodrigues – Quando 2012 foi designado pela ONU como Ano Internacional do Cooperativismo, a ACI preparou um projeto para a década cooperativista que tinha três objetivos centrais: primeiro, aumentar o número de cooperativas e cooperados; segundo: conseguir que os países tivessem legislações e regras que não excluíssem as cooperativas do processo econômico; e, terceiro: que houvesse mecanismos financeiros, como fundos de investimento, que apoiassem as cooperativas para elas poderem se desenvolver vigorosamente em todos os países do mundo. 

Em minha opinião, acho que tudo isso passa por um mecanismo de comunicação com a sociedade. Quanto mais informada estiver a sociedade sobre o valor da cooperativa, do peso que elas têm na economia, do que elas significam para pessoas, já que ela é um grupo de pessoas, mais poderá o sistema crescer e ser reconhecido nacional e internacionalmente. O que precisamos evoluir muito é o ato de comunicar, para que aquelas três ideias da ACI sejam implementadas em qualquer país do mundo, inclusive no Brasil.

Fonte: Sistema OCB