Transferência de imunidade passiva em bezerros de corte «Voltar

Por Paula Marques Tiveron e Rafael Azevedo

A importância de uma correta transferência de imunidade passiva através do fornecimento do colostro e absorção intestinal das imunoglobulinas colostrais é reconhecida mundialmente. A mortalidade, morbidade e o menor crescimento de um animal mal colostrado, resulta em impactos econômicos negativos para a pecuária bovina de corte. Porém esse assunto ainda é deixado de lado por muitos produtores, tendo pouco estudos focados no bezerro de corte.

As diversas revisões existentes na literatura científica sobre imunidade neonatal bovina referem-se quase exclusivamente a bezerras leiteiras. Apesar de associar-se a imunidade passiva igualmente a bezerros de corte e leite, os fatores genéticos, ambientais e de manejo, geralmente são extremamente diferentes, resultando em um estado imunológico diverso.

O colostro é a primeira secreção da glândula mamária produzida após o parto, sendo um alimento muito rico em nutrientes e outras substancias biologicamente ativas. Ele contém, por exemplo, carboidratos, proteínas, fatores de crescimento, citocinas, gorduras, minerais e vitaminas, sendo considerado a principal fonte de nutrientes para os recém-nascidos.

Embora o foco seja a imunidade passiva em relação às imunoglobulinas, reconhece-se que no colostro contém uma grande variedade de outros fatores.

Diversos fatores poderão influenciar na produção de colostro, quanto a quantidade e qualidade. No geral, considerando que as vacas leiteiras são geneticamente selecionadas para a produção de leite, maiores volumes são esperados. Porém quando comparado a produção de colostro em vacas de corte multíparas e de vacas de leite primíparas, observa-se maior produção no primeiro grupo, refletindo o menor desenvolvimento da glândula mamária nas novilhas.

Apesar de poucos estudos quantificarem o colostro em vacas de corte, bem como relatarem a sua qualidade, observa-se influência do genótipo, paridade e nível de nutrição materna, no colostro. Estudos observaram que a indução de parto por duas semanas antecedentes reduziu a qualidade do mesmo em vacas de corte.

A ingestão de colostro em adequada quantidade e qualidade é essencial ao recém-nascido para o fornecimento de proteção imunológica durante as primeiras semanas de vida, até que seu próprio sistema esteja funcional. A absorção de anticorpos através do epitélio intestinal durante o período neonatal diminui com o tempo pós-parto e cessa após 24 horas. Sendo assim, recomenda-se que os bezerros de corte amamentem o colostro dentro de duas horas pós-parto.

Em relação ao manejo de colostragem, uma das diferenças entre os bezerros de leite e os bezerros de corte, é que no corte os animais permanecem e amamentam em suas mães, considerando que, normalmente, o bezerro leiteiro é removido de sua mãe logo após o nascimento e recebem o colostro de forma artificial.

Comparado ao amamentar na mãe, a alimentação artificial tem benefícios, pois para o bezerro de corte conseguir ingerir colostro suficiente, ele primeiro precisa ficar em pé, andar, encontrar o teto da mãe e sugar, enquanto, simultaneamente, a mãe deve ter um bom vínculo materno com a cria, produzir um volume adequado de colostro com concentrações adequadas de imunoglobulinas e tetos que possam ser succionados facilmente pelo recém-nascido.

Circunstâncias que afetam esses fatores comportamentais têm um impacto negativo na transferência de imunidade passiva em bezerros de corte, interferindo no desempenho do animal.

Normalmente, em bezerros de corte o tempo médio entre o nascimento e o primeiro bezerro a ficar em pé varia de 30 minutos a quase 2 horas; e o tempo médio para o recém-nascido amamentar sem assistência, geralmente ocorre dentro de 60 a 260 minutos, podendo variar em intervalos mais longos quando observados individualmente. Em rebanhos de bovinos de corte, com partos fáceis, sem auxílio, a maioria dos animais mamam dentro de 4 horas.

As recomendações de colostragem em bezerros de corte é frequentemente baseada em manejos modificados de fazendas leiteiras, e na maioria dos casos, isso é inadequado. Na pecuária leiteira, recomenda-se o fornecimento de colostro de alta qualidade equivalente a no mínimo 10% do peso vivo do animal, nas primeiras horas de vida.

Algumas pesquisas já apontam que alimentar os bezerros de corte com 5% do peso vivo de colostro de alta qualidade via sonda esofágica dentro da primeira hora pós-parto, com subsequente amamentação na mãe, de 6 a 8 horas mais tarde, garante o sucesso de transferência de imunidade passiva. Ou seja, deve-se fornecer um bom aleitamento nas primeiras horas de vida do neonato, com acesso à mãe posteriormente.

Devido à dificuldade de quantificar e qualificar o colostro consumido pelos bezerros de corte, há poucas informações publicadas sobre a eficiência de absorção dos anticorpos. Porém sabe-se que bezerros de vacas mais velhas geralmente têm melhor estado imunológico quando comparado com vacas mais jovens, principalmente primíparas.

Pesquisas sobre os fatores relacionados ao manejo de colostragem interferindo na transferência de imunidade passiva em bezerros de corte são necessárias. Porém enquanto as informações são escassas, fica o alerta aos produtores para a importância do manejo de colostragem. O suporte e observação nas primeiras horas de vida são cruciais para o futuro do animal!

Paula Marques Tiveron, é técnica de corte da Alta Genetics

Rafael Azevedo, é gerente de produto da Alta Genetics

Fonte: periódico Animal de 2018.