O poder da politização no agronegócio «Voltar

Por Ana Paula Cenci e Luciana Lacerda – sócias diretoras da ImPlantar

É politizando que se combate a politicagem.  É politizando que se combate a manipulação. É politizando que se combate a corrupção. É politizando que se combate a alienação.

Há mais ou menos um ano, tentamos fazer algo muito inusitado: descomplicar o mundo político para o setor agropecuário. Usando uma linguagem do dia a dia, mostramos a relevância dos assuntos debatidos em Brasília para o produtor que está lá na ponta – longe da Capital Federal. Nossa proposta é instigar o homem/ mulher do campo a serem representantes do agro na política brasileira. Por meio de conteúdos didáticos expomos a ele que uma parte da sua produção não é “decidida” por ele, mas sim por leis, normas, decretos que são feitos pelos políticos que estão em Brasília.  E, é exatamente aí que entramos no cerne do artigo: a necessidade do produtor, agricultor ou empresário rural se POLITIZAR! Aprender sobre a política e vir para o debate!

Antes de falarmos da politização existem alguns contratempos que devem ser citados. Infelizmente o tema política muitas vezes é considerado desprezível e chato por muitos produtores e o pior, gera muitas inimizades nos grupos sociais. A maioria associa política a um partido ou ideologia e exatamente por isso que aprendemos lá atrás que “futebol, política e religião não se discute”. O ditado popular até faz sentido, quando pensamos em opinião, ou seja, a expressão é correta se analisamos pelo ponto de vista do manifesto ou da crença de cada um – trazendo a ideia de temos que respeitar as diversas opiniões.

Por outro lado, é essencial termos conhecimento de como funcionam os órgãos federais, como são feitas as leis – que impactam diretamente o seu negócio e por isso trabalharmos de forma estratégica na política nacional. Sendo assim para nós politizar é: levar conhecimento, informação, ou seja, uma “arma” para o produtor rural brasileiro batalhar por melhorias ou adequações para a realidade do campo. Ou seja, só reconhecendo a força que a política tem, vamos construir um país melhor.

Hoje, o que reparamos nas rodas de bate papo com os produtores rurais e até mesmo com as lideranças do setor é que  existe uma grande  ruptura nesse processo de conhecimento político. Na verdade, o abismo que existe entre o produtor e a atuação política é: a falta de informação, de não saber como atuar junto aos engravatados de Brasília. Estranho isso, certo? Mas a nossa experiência nos mostra que o homem do campo se interessa pelo tema política e ele sabe que esse afeta-o diretamente.

Fica cada vez mais nítido, quando somos convidadas para palestrar para os produtores da base, sobre os bastidores da política nacional, eles super interagem – comentando e questionando os temas abordados. Ou seja, querem saber, mas a grande maioria não tem ideia que pode fazer parte desse debate. Falta conhecimento do funcionamento das demandas em Brasília, para ele se tornar parte do debate (ou até mesmo se sentir parte).

Os produtores têm sede de informação e conhecimento sobre o mundo político – muita vontade de aprender, e por isso que hoje trabalhamos para transformar esses produtores, levá-los as rodas de debates na capital federal, inseri-los, torná-los parte – para que a política de Brasília seja de todos e chegue até ele! Sabemos da dificuldade de sair do negócio, da fazenda, mas lembre-se nosso objetivo é mostrar que a cadeira da mesa do debate deve ser ocupada por você, senão outra pessoa (que muitas vezes não entende o setor e tem o viés totalmente urbano) vai ocupar.

Temos um roteiro semanal, nas nossas mídias sociais, que tem como objetivo politizar o produtor de acordo com os debates de Brasília. Mostramos a ele por exemplo, os caminhos para tratar de endividamento rural, explicar o que é e como atua a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), citar o trabalho das secretarias nacionais que dão amparo ao setor, entre outros diversos temas. Fazemos isso todos os dias e sempre com o foco nos problemas recorrentes que o mundo agro tem e como esses entraves podem ser solucionado com  a política feita em Brasília.

Claro, que é essencial que esse trabalhador rural esteja associado em alguma instituição ligada ao agro (seja sindicato, associação, federação), pois esse é o primeiro passo, como citamos no nosso último artigo “A importância do Associativismo”. Pois é necessário organização da classe para trabalhar os entraves.

Finalizamos com a certeza de que a cadeia do agronegócio tem plena consciência da importância do processo político e fica o desafio de trazer o produtor para o debate em Brasília, pois juntos somos mais fortes!